Eduardo Allgayer Osorio
O agro brilha e espera ser bem tratado
Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro agrônomo, professor titular da UFPel, aposentado
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Muito festejada foi a divulgação de que o PIB brasileiro, principal indicador da atividade econômica do País, cresceu 1,9% no primeiro trimestre de 2023, superando as projeções das agências de avaliação. Segundo a OCDE, o Brasil obteve no período o quarto maior índice de crescimento dentre as 37 nações comparadas, atrás apenas da Polônia (3,9%), da China (2,2%) e de Luxemburgo (2%), tendo seis países, incluída a Alemanha, apresentado percentuais de crescimento negativos. Na avaliação feita, o principal destaque foi o agronegócio, que cresceu 21,6%, fruto do aumento da produtividade das lavouras, destacando-se as de soja (24,7%), de milho (8,8%) e outras, com exceção da lavoura de arroz que encolheu 7,5%. Quanto aos demais setores, a indústria extrativa de petróleo e de mineração de ferro cresceu 2,3%, a eletricidade, gás e água 1,7%, o transporte 1,2%, os serviços 0,6%, a saúde 0,5%, a educação 0,5% e o comércio 0,3%. O setor industrial manteve-se em queda de 0,1%, mais acentuada na construção (menos 0,8%) e na indústria de transformação (menos 0,6%). Ou seja, sem a agropecuária o Brasil dificilmente teria um índice de crescimento elogiável.
Nesse contexto, surpreende ver a relevância do agronegócio brasileiro ser desdenhada pelo presidente da República, que em campanha eleitoral já taxava os seus agentes como "fascistas", destrato esse repetido na feira Agrishow, realizada em Ribeirão Preto, quando boquejou: "alguns fascistas e negacionistas não quiseram que o meu ministro fosse ao evento", numa afirmativa incorreta, já que o próprio ministro havia declarado sentir-se "desconvidado" diante do anúncio da presença do ex-presidente Bolsonaro no evento. Insistindo em seus ataques ao agro, no Bahia Farm Show, realizado em Luís Eduardo Magalhães entre 6 e 10 do mês corrente, Lula ironizou: "vim nessa feira só para fazer inveja nos maus-caracteres de São Paulo".
Um alento teve o setor agropecuário quando Lula, na fala do dia 13 no programa Conversa com o Presidente, declarou: "vamos anunciar o Plano Safra e eles vão perceber que, da parte do governo, não há objeções", despertando a expectativa por um pacote robusto de financiamentos, a juros baixos, concluindo: "não há incompatibilidade entre o pequeno, o médio e o grande produtor, vamos anunciar o Plano Safra e todos vão perceber que, da parte do governo federal, não há objeções".
Quanto às movimentações do MST, contemporizou ao dizer que "não precisa mais invadir terra; não tem que haver luta", agradando com essa fala os participantes do agro. Mas a trégua durou pouco. Dois dias depois, em entrevista dada às rádios de Goiás, o presidente Lula voltou a alfinetar os empresários do agronegócio assegurando que "o problema deles conosco é ideológico", recebendo como resposta, do deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária: "trabalhamos com ciência e tecnologia, não com ideologia", concluindo: "o governo, desde o início do ano, traz inúmeras sinalizações contra o setor".
Somando-se, a má vontade presidencial em relação ao agronegócio com a disposição do STF em alterar a Constituição no que se refere ao Marco Temporal das terras indígenas, a pergunta que paira ainda sem resposta é: quando teremos a volta da paz no campo?
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